Nos idos de 1990, conheci uma astróloga em uma palestra sobre terapias alternativas. O nome dela era Margô, uma mulher inteligente, enigmática, despertou pela primeira vez minha curiosidade em Astrologia- até então, o máximo que eu conhecia a respeito eram as previsões do meu signo nos jornais e revistas.
Ela trabalhava com algo chamado "mapa astral cármico". Curiosa, marquei um horário com ela, antes passei-lhe os detalhes do meu nascimento, hora, local, data. Apenas isso.
Após algumas semanas, fui ao consultório onde ela atendia munida de uma "pré histórica" fita K-7 (naquela época não havia celular, mp3, I-pod, nada disso) para gravar a consulta.
O que se passou nas duas horas ou mais que fiquei lá jamais será esquecido por mim. Aquela mulher, com jeitão de maga, foi dizendo coisas a meu respeito que ela não teria condições de saber. No entanto, duas informações em especial eu me lembro de ter discordado veementemente.
Uma delas, era referente ao meu pai e ao meu irmão do meio. Era algo tão fora do contexto naquela época, que duvidei de todo o resto que ela falou. Ela tentou me alertar sobre predisposições "carmáticas" que poderiam se repetir.
Passados 15 anos, o que ela havia dito se cumpriu (imediatamente eu me lembrei da "maga") e passei 6 anos sem falar com meu pai. Somente com a doença dele, ano passado, é que relevei tudo que aconteceu no passado recente. Já meu irmão, com seus atos, queimou todas as pontes que pudessem propiciar qualquer contato entre nós.
A segunda informação que a Margô me passou era de que eu tinha um "carma" na área da amizade. Por essa razão, os amigos mais próximos e queridos iriam me trazer muita mágoa e decepção ( nada agradável de se ouvir, né?)
E é sobre isso que gostaria de falar. Por mais que eu queira duvidar das previsões, meu histórico de amizades é uma catástrofe. Vou hoje contar a história mais patética de todas:
Perdi o amigo mas não perdi a piada...
Antes mesmo de conhecer a Margô, no final dos anos 80, eu estava na faculdade de Direito e dava aulas de inglês em uma excelente escola de idiomas em São Paulo. Lá conheci o "Zé", vamos chamá-lo assim, que também era professor de inglês. Nessa época eu começava a apresentar sintomas do transtorno do pânico e foi ele quem me disse pela primeira vez do que se tratava todo aquele mal-estar que eu sentia, pois ele também tinha esse transtorno. Pela primeira vez, fiquei aliviada por saber que mais alguém sentia aquilo e que eu não era louca!
Durante quase 20 anos fomos amigos/irmãos, fui madrinha de casamento dele, saíamos juntos todas as semanas para almoçar, eu era capaz de desmarcar qualquer compromisso para estar com ele.
Um belo dia, fui procurá-lo na minha lista de amigos do Orkut e percebi que eu havia sido deletada. Achei que era algum equívoco, mandei uma mensagem para ele e não obtive resposta. Daí seguiram-se telefonemas, e-mails, e nada. Nenhuma palavra, nenhuma resposta. Eu fiquei perdida e extremamente magoada por não ter a menor idéia do que ocorrera. O que eu poderia ter feito de tão grave assim??
Anos depois, um amigo em comum precisou da minha ajuda como advogada e foi ao meu escritório. Só então esse amigo me contou o motivo pelo qual o "ZÉ" havia colocado fim em uma amizade de décadas.
Pasmem: o motivo foi uma PIADA do Lula, que mandei para ele e para todos os amigos que eu tinha cadastrado no meu e-mail, como naquela época era hábito fazermos (hoje existe o Facebook com a mesma proposta). E o pior é que eu nem sei sobre o que era a tal da piada, foi alguma dessas que recebi e repassei.
Eu me senti a pessoa mais insignificante do mundo, só de pensar que o meu melhor amigo pudesse ser capaz de achar uma piada do Lula mais importante do que a nossa amizade. Sofri muito, demorei meses com aquele aperto no peito, e mesmo hoje, passados mais de 6 anos, ainda lamento ter dedicado tanta afeição a uma pessoa como ele.
Há outras histórias não tão burlescas assim, de amigos e amigas de quem eu gostava profundamente e que foram vis e traiçoeiros. Pessoas cuja amizade era apenas uma fachada para interesses financeiros ou profissionais.
Outras pessoas simplesmente desaparecem da minha vida, de outras sou eu quem fujo, quando percebo que estão imbuídas da síndrome do Narciso (parece que eu exerço uma forte atração junto a essa classe de pessoas).
A última decepção é bem recente, foi um misto de traição do meu melhor amigo e golpe financeiro. Essa deveria ir para os anais da História - com "H" maiúsculo. Eu, literalmente, fui vendida.
Por essas e outras, tem dias que eu sinto um vazio e uma tristeza enormes. Hoje, especialmente, porque uma situação de emergência forçou-me a ter contato com esse "Zé". Isso me fez relembrar a mágoa e tomar consciência da falta que faz ter amigos com quem eu possa contar a qualquer hora. E com quem eu possa conviver mais proximamente. Eu tenho, claro, amigos antigos, da época do colégio, da faculdade. Há os amigos com quem eu saio, converso, mas não é ainda aquela amizade fidagal. No dia-a-dia, na hora que a porca torce o rabo, eu só tenho a minha fiel escudeira Clê, que é minha "mãinha", filha, irmã, tudo junto e misturado.
Por mais paradoxal que possa ser, o contato com tantos amigos no Facebook faz com que eu sinta ainda mais a falta deles. Esses amigos estão sempre tão perto... e tão longe.
Em tempo: nem todas as previsões da Margô foram ruins - no que diz respeito a muitos amores e sucesso profissional não tenho do que reclamar - quase todas se cumpriram, exceto a de que eu teriam muitos filhos...só se ela estivesse referindo-se aos meus cachorros....hahaha