Não sei você, leitor, mas eu tenho uma mente hiperativa, e quando ela resolve se exceder, tudo o que eu queria era ter um botão liga/desliga.
Começo com uma singelaela lembrança do Topo Gigio, aquele ratinho que fez sucesso nos anos 70, minha cabeça alucinada já começa a fazer conexões absurdas, começo a lembrar do meu jardim da infância. Tinha um menino enorme na minha classe, tipo... 4 vezes o meu tamanho, e eu achava ridículo aquele meninão ficar chorando todos os dias quando a mãe ia embora.
Castigo divino, dois anos depois eu passei a sofrer dessa "síndrome da alienação parental". Por semanas minha mãe precisou ficar tricotando no pátio do colégio enquanto eu tinha aula, pois eu entrava em pânico quando ela ia embora. MAs eu não dava chilique, pelo menos isso!
Nessas elocubrações sobre Topo Gigio e menino chorão, viajei até minhas outras pirações de medo.
Eu tinha P-A-V-O-R de espírito.Minha família tinha casa na Praia Grande e, aos sábados à noite, quase sempre tinham adeptos da umbanda fazendo rituais na praia. Acendiam velas, batucavam tambores e rodavam, rodavam, com aquelas roupas brancas, as pessoas entravam em transe e eu morria de medo de um daqueles espíritos baixar em mim!! Como eu sofria!! Meu pai achava a maior graça e ficava imitando o "saravá". Imagina, depois eu tinha de dormir sozinha, o medão que eu sentia era f...
Quero deixar claro que tenho o maior respeito por todas as religiões, era só medo infantil.
Outro medo avassalador que eu tinha era ficar presa em algum lugar. A clássica claustrofobia. Isso me levou a algumas situações patéticas, especialmente quando precisava usar banheiros públicos e tinha medo de trancar a porta (e ficar presa). Aprendi técnicas de segurar a porta com a cabeça, já que se esticasse a mão acabava fazendo xixi na roupa. Banheiro de avião, afff... sem comentários. Só ia quando era impossível evitar e mesmo assim ia acompanhada, pois além de ficar presa tinha medo de ser sugada pela pressão daquele vaso sanitário do capeta. Convenhamos, banheiro de avião é a maior expressão do sadismo das companhias aéreas. Tanto progresso e melhorias, mas o banheiro continua um ho-rror.
Cadê a saída de emergência????? |
Por exemplo: eu tinha medo de parar de respirar e morrer enquanto dormia. Minha mãe teve uma brilhante idéia para me fazer perder o medo: ela me fez deitar nacama, fechar os olhos e apertou meu nariz. Na mesma hora eu abri a boca assustada., pensando que ela ia me matar! Ela disse "viu só? se o seu nariz entupir sua boca vai abrir na hora pra você respirar!" Hoje eu acho a maior graça dessas pitadas de psicologia da minha mãe.
Com esse jeito meio tosco de me fazer perder meus medos, ela também me ensinou coisas importantes. A nunca permitir que um homem encoste a mão em mim, ou me tratar com desprezo. Aprendi a me valorizar, a jamais permitir que me alguém me humilhasse. No alto dos meus 1,50m de altura, eu sempre fui uma leoa na hora de brigar por mim e pela minha família.
É dia das mães, ao invés do lugar comum de pensar em todas as qualidades da minha mãe, hoje estou lembrando do jeito estabanado dela lidar com a afetividade, uma dificuldade que ela sempre teve. Ainda que tenha havido muitos erros, os acertos foram maiores. Aprendi mais com ela do que com qualquer outra pessoa na minha vida. E não é qualquer um que teria paciência de ficar meses tricotando num pátio de escola pública, me mostrando desde cedo que os medos devem ser superados, nunca evitados.
A minha mãe e a todas as mães, um lindo dia... Que todo o amor do universo envolva o caração de cada uma de vocês, bravas guerreiras.