Este ano está sendo o ano das situações inesperadas e inusitadas. A começar pelo fato de eu, após tantos anos atuando como advogada, me ver na situação de dona de loja de materiais de construção! Justo eu, que sempre preguei aos quatro cantos que jamais trabalharia no comércio, meu talento sempre foi o uso da palavra -escrita ou verbalizada, dando aula ou redigindo petições... essa é minha praia.
Pois minha praia, desta vez, é formada de areia- mas aquela que se usa em construção, vendida em sacos de 20 kg pelo preço de R$ 2,40. Essa mudança foi necessária, após minha separação, com a descoberta que meu ex-marido estava me roubando na cara dura, descoberta essa que devo à astúcia de minha fiel escudeira, Clemilda, que à época trabalhava no caixa da loja.
Brigas à parte - foi uma fase muito difícil quando descobri que meu "ex" não era o homem de caráter que eu sempre imaginei, começar uma atividade da qual eu pouco sabia foi um desafio. E digo que só foi possível vence-lo graças à ajuda de dois funcionários que vestiram a minha camisa e arregaçaram as mangas para me ajudar: minha fiel escudeira e o João, este último foi contratado por indicação de um amigo meu de infância.
Bem, logo no segundo mês da minha gestão na loja, já ocorreu um fato prá lá de inusitado - o cunhado de Clemilda cai morto no banheiro da casa dela, numa manhã de fevereiro, acometido por pneumonia. Depois de ser internado em um hospital público, ele havia sido liberado sem o diagnóstico correto da doença. Lá se vai uma semana sem a minha indispensável ajudante.
No mês seguinte, Clemilda descobre-se grávida. Festa, alegria e comemoração... o marido dela, que acabara de perder o irmão, ficou exultante com a notícia, seria o primeiro filho dele - ela teve uma filha de outro relacionamento.
Um mês depois, Clemilda perde o bebê. Minha preocupação dividia-se entre o bem-estar de minha funcionária e a preocupação com a loja, eu ainda não havia aprendido todo o necessário para poder administra-la sem a ajuda da Clê. E ela, como uma leoa, superou esse problema e voltou a trabalhar em poucos dias.
Parece piada, mas não é. Duas semanas depois, o marido dela sofre um enfarte. Por pouco não vai a óbito. E o mesmo hospital que antes não tratou adequadamente o cunhado da Clê, desta vez salva a vida de seu marido... o imponderável.
Foram dois meses de internação, Clê se dividindo entre hospital e loja, tentando administrar tudo sem fraquejar, uma mulher de fibra essa minha Clemilda...
O marido sobreviveu, operado e safenado.
No final de maio, reuni meus fincionários e disse em tom de brincadeira:
- Agora, por favor, chega de imprevistos. Vocês estão proibidos de ficar doentes, tratem de se cuidar porque eu não aguento mais um sufoco desses.
Mas o João, teimoso como só, baino retado, cismou de me desobedecer. Foi atropelado na semana passada, na mais paulista das avenidas. Teve as duas pernas fraturadas, traumatismo craniano - vai ficar mais doido do que já é, esse cabra...
Pois é, o imponderável...
Quem iria imaginar que uma coisas dessas pudesse acontecer? Logo com o João, sempre animado, brincalhão, um verdadeiro palhaço, impossível não rir com ele.
A loja ficou mais triste, ainda mais sabendo que ele ficará afastado por muitos meses. E eu estou aprendendo que, por mais que você tenha pessoas para te ajudar, no fim, só podemos contar conosco, pois existe sempre à espreita, o tal do imponderável, do imprevisto, que quando aparece te deixa nú, com as únicas armas que possuímos: nossa capacidade de superação.
Da esquerda para direita: João, Clemilda, Rodrigo e Mané... equipe da loja.
4 comentários:
Nossa a coisa tá feia por aí! Por que nossa vida dá essas reviravoltas, né? E só nos resta aguentar...
Eu queria fazer medicina, e sempre odiei Direito, hoje em dia trabalho em fórum... São as pegadinhas da vida...rs
Beijocas
Não se esquive, você também é importante na vida deles, compreendendo a necessidade e dificuldade de cada um, mostrando confiança, apostando neles. Tudo é troca!
Tem fases em que tudo acontece, né? Mas o que salva é um dia passa, e a gente fica mais forte. Sorte e força para o João, e para você.
Cacilda! Que maré, hein? Nem sei o que dizer. Desejo forças pra superar essa fase!
Bjoo!!
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