Aventure-se comigo...

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sábado, 9 de outubro de 2010

É O QUE "TAIM"...

Eu tenho um amigo que eu amo com todas as forças do meu ser, cada célula do meu corpo tem um pedacinho de amor por essa pessoa tão especial. Nas incontáveis vezes em que eu me desiludi com a raça humana, acreditando que não haveria viv'alma neste mundo que valesse um centavo, lembrava-me desse meu amigo e minhas esperanças eram renovadas.
Ele é um desembargador muito conhecido e muito paparicado por pessoas de todo tipo, em especial por aquelas que são atraídas pelo poder e pela fama.  Afinal, ele é responsável por decidir processos judiciais de relevância, que afetam os interesses de centenas, milhares de pessoas. 
Não obstante essa inegável realidade, ele conta com uma vasta legião de fãs verdadeiros, da qual já me entitulei "a fã número 1". O posto é meu e ninguém tasca!
O motivo de tantos fãs? Ele é a pessoa mais honesta e generosa que eu já conheci na vida. A bondade que emana dele é contagiante. Já vi homens maduros apaixonando-se por ele em salas de aula, nos cursos que ele ministrou sob minha coordenação, para advogados em São Paulo. Mulheres, então... nem se fala! Sou testemunha ocular do efeito que ele causa nas pessoas. 
E ele ainda é um excelente contador de histórias, sempre tem um "causo" para ilustrar o seu discurso.
Há uns dois anos, quando eu estava me separando, várias decepções ocorreram ao mesmo na minha vida, foi uma fase extremamente  dolorosa. Lembro-me de estar sentada no chão da sala de TV e chorar como nunca antes havia chorado. Sentia como se a cada grito de dor e lágrima, um pedaço de mim era arrancado. Pensei no meu amigo e liguei para ele. Eu não sou do tipo fragilzinha que sai gritando "socorro, não aguento mais, vem pra cá cuidar de mim", não é meu estilo.
Naquela tarde, no entanto,  liguei para ele e disse, quase sem voz, que eu precisava de ajuda, por que eu não estava dando conta da minha dor.

Ele disse apenas:
- Bete, querida, venha para cá agora.
E não sei como, eu me vesti, peguei o carro e fui até a Av. Paulista, onde à época ficavam os gabinetes dos desembargadores. Chegando lá, ele me levou para tomar um café em um lugar com mesinhas ao ar livre, eu podia ver o movimento da Paulista, local que eu sempre amei na minha cidade.
Quando eu contei a ele o que estava acontecendo, disse que eu NÃO QUERIA ESSA VIDA, eu tinha sonhado outra coisa!! Nem precisava ser um conto de fadas, mas eu queria  ao menos ter um pai e uma mãe presentes, irmãos que nutrissem carinho por mim, queria ter um NINHO para me aconchegar momentos difíceis! Eu me recusava a aceitar o que estava acontecendo.

Então, do alto da sua sabedoria, ele me contou a história da Dona Maria, uma portuguesa que era dona da pensão onde ele morou quando jovem estudante.
Diz ele que naquela época ele já era bom garfo - sempre teve um fraco por comida e por belas mulheres. Na pensão, ele foi privado tanto de uma coisa quanto de outra. Quase todos os dias o cardápio da Dona Maria era "picadinho", arroz e feijão. Um certo dia, ele se rebelou e disse:
- Dona Maria, pelo amor de Deus, picadinho de novo?
No que ela, com toda a objetividade que lhe era peculiar respondeu:
- É o cã "taim".
( traduzindo o sotaque lusitano: "é o que tem").

Naquele momento, não entendi a profundidade do que ele estava me ensinando, mas hoje passados 2 anos, lembro-me diariamente dessa frase e faço uso contante da sabedoria singela aí contida.

Quando nossa vida está uma m&*%@!, é aconselhável procurar o lado menos ruim e comer o picadinho - melhor do que ficar com fome... afinal, "é o cã taim". 

E nada pode ser tão ruim assim, quando ainda existem pessoas que preenchem de significado a nossa existência. Espero que você, leitor, faça uma listinha das coisas boas, e  saiba contentar-se com elas nos momentos difíceis. Sim, pois ninguém passa impune aos "picadinhos" da vida. Haverá época em que você só vai ter isso, seja no relacionamento amoroso, no trabalho, na sua vida social. Mas o dia chegará em que você será servido com as mais inebriantes iguarias jamais experimentadas (assim espero, né?).